terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Pesquisa-Ação Como Alternativa Para Análise da Prática Docente



                                                                                                   ULATOSKI, Luciano 2009
 Fichamento

Maria de Fátima Barbosa Abdalla, Doutorada, Pesquisadora da universidade católica de Santos, UniSantos, tem como objetivo principal propor alguns aspectos metodológicos da pesquisa-ação, para buscar, mais coerência entre a opção proclamada e a prática que realizamos no enfrentamento dos desafios profissionais.   Na primeira parte pretende levantar elementos para fundamentar a importância da pesquisa-ação na análise da prática docente, abordando as formas de articulação da pesquisa e da ação como estratégia de aprendizagem profissional. A segunda procura compreender até que ponto a pesquisa-ação estabelece condições para favorecer a participação e o compromisso das professoras com a prática. Já a terceira intenciona esclarecer como se dá a argumentação manifestada pelas professoras no decorrer das decisões tomadas quanto à interpretação das informações dos fatos das ações vivenciadas. O texto busca destacar aspectos norteadores deste estudo e anunciar alguns princípios para compreender a pesquisa-ação não só como método de investigação, mas como estratégia de conhecimento teórico-prático.
A reflexão sobre este real aprendizado ajudou-nos a compreender que adotar a pesquisa-ação, como concepção metodológica, seria a melhor forma de apreender a realidade, pensá-la na fluidez de seu processo e envolver ativamente as professoras. Segundo Thiollent (1997: 36), a pesquisa-ação pressupõe uma concepção de ação, que “requer, no mínimo, a definição de vários elementos: um agente(ou ator), um objeto sobre o qual se aplica a ação, um evento ou ato, um objetivo, um ou vários meios, um campo ou domínio delimitado”.
A pesquisa tem como objetivos: 1º não só explicar a realidade, mas, sobretudo, compreendê-la; 2º não só aplicar os conhecimentos de maneira unilateral, mas estabelecer a relação entre teoria e prática, de forma a esclarecer melhor o movimento do que se aprende no contexto da Universidade e da escola; 3º contribuir para a emancipação das alunas-professoras, de forma a fazê-las compreender o significado de se implicarem com suas realidades, assumindo suas próprias ações.
Neste sentido, foram-se abrindo as seguintes proposições de execução do projeto de formação/ação: a necessidade de construir uma trajetória equilibrada na seleção dos temas e na orientação dos projetos de pesquisa, propiciando uma compreensão maior do processo; a apreensão desses projetos teria que ser um dos fios condutores a estruturar os encontros, aprimorando o desenvolvimento de competências e saberes relativos aos processos de produção, apreciação e investigação que fundamentam a prática docente; o entendimento do caminho metodológico traçado para melhor compreender a relação teoria/prática e os tipos de conteúdos que estariam em jogo nas diferentes situações de ação/pesquisa e aprendizagem.
Dentro dessa perspectiva, encaminhamos algumas linhas de ação para melhor
“conhecer a realidade do mundo tal qual nós a percebemos nas nossas interações” (Barbier, 2002: 115) Resolvemos, juntas, estudar os eixos temáticos que dariam suporte ao caminho metodológico da pesquisa: São eles: 1º.a identificação do problema e a contratualização; 2º. o planejamento e a realização em espiral; 3º.as técnicas de pesquisa-ação; e 4º. a teorização, a avaliação e a publicação (divulgação, no caso) dos resultados.
          Na medida em que as quatro temáticas de Barbier (2002: 11-146) iam sendo esclarecidas, as professoras compreendiam qual o caminho que estávamos tomando e como seria possível apostar em mudanças nas realidades investigadas. Sistematizamos, dando mais força a este diálogo, os três momentos da construção do objeto (Bourdieu, 1999): objeto conquistado, construído e constatado. Momentos também enunciados por Barbier (2002: 121), mas traduzidos como objeto abordado, co-construído e efetuado.
          Este movimento na construção do objeto de pesquisa foi antecedido por uma seqüência de conflitos/dificuldades, indicando que: 1º.os alunos eram, na maioria, indisciplinados, desinteressados, apáticos; 2º.a direção não apoiava situações mais inovadoras (tinha-se uma “gestão autoritária e burocrática”);3º.a coordenação não motivava professores e alunos (mais administrativa e menos pedagógica); 4º.a família era ausente na vida escolar de seus filhos.
De fato, a exposição de situações conflitivas e das dificuldades em enfrentá-las fizeram com que elas iniciassem os seus projetos de pesquisa, anunciando temáticas e questões-problema em torno das inquietações.
          “Os caminhos são muitos, mas as iniciativas de como transitar por eles e o desafio por onde seguir cabe a cada um. O processo não tem fim... continua-se sempre...(alunas-professoras do PEC/ Santos/2003). Sem dúvida as alunas-professoras estão certas em dizer que o processo não tem fim... continua-se sempre. Diante dessa afirmativa, a pergunta que nos resta seria: quais os efeitos da pesquisa-ação neste processo de formação e desenvolvimento profissional? Os caminhos são muitos, diriam elas, até para buscar responder ao que propomos. Observamos que foi possível escutar, especialmente, as razões práticas daquelas professoras em relação às suas maneiras de ser e de estar na profissão docente.
          Foi preciso, então, mergulhar nos dados obtidos e compreender/interpretar a escola, conforme nos ensina Canário (1996:126), como objeto social e objeto científico. Nesta perspectiva, tentamos entendê-la não só enquanto estrutura - campo de poder, mas, também, como movimento que se estrutura, desestrutura, reestrutura ou explode (Barbier,2002: 112 – 113): como processo em permanente construção. Resumindo: algumas demonstraram desejo de modificar a estrutura das escolas, outras não conseguiram perceber as possibilidades estruturantes/instituintes para as possíveis mudanças.
          Partimos da noção de que a prática resulta da relação dialética entre uma “estrutura - por intermédio do habitus como modus operandi - e uma conjuntura entendida como as condições de atualização deste habitus e que não passa de um estado particular da estrutura”, conforme Miceli (in Bourdieu,1998a: XL).
          Neste caminho, o exercício de descrever a prática possibilitou uma troca de experiências sobre o registro dos contextos significativos, exigindo de todos uma postura de investigadores da prática, ou melhor, de teóricos da ação, diria Bourdieu (1997), criando, assim, novas maneiras de ser e de estar na profissão.
          Para se compreender este novo habitus, ou seja, alguns dos efeitos da pesquisa-ação nas alunas-professoras, procuramos analisá-los em,  menos, quatro dimensões: A pessoal,  no esforço de resgatar a história de vida e de compreender a pesquisa-ação, tomaram consciência dos próprios valores e passaram a pensar em auto realização. A didática na medida em que assimilavam novas tecnologias; faziam circular informações, conhecimentos e experiências; enfrentavam os desafios das situações pedagógicas provocadas pela pesquisa-ação, possibilitando a criação de um “pesquisador coletivo” e de uma cultura mais profissional, coesiva e coerente.
 A institucional/organizacional, quando compreenderam o quanto a cultura organizacional e o clima institucional afetavam suas atuações. A profissional quando refletiram sistematicamente sobre suas práticas,utilizando os resultados da reflexão, especialmente da coletiva, para melhorar a qualidade de sua atuação posterior.As dimensões aqui expostas permitiram que a pesquisa-ação fosse compreendida como uma estratégia de formação e de aprendizagem da profissão, orientada para facilitar o entendimento de que é possível e necessário transformar a prática.


          Referências Bibliográficas
BARBIER, René. A pesquisa-ação. Trad. Lucie Didio. Brasília: Plano Editora, 2002.
BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Lingüísticas: o que falar quer dizer. Trad.
Sergio Miceli et alii. São Paulo: Edusp, 1996.
_________. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1997.
_________. O poder simbólico.Trad. Fernando Tomaz.2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1998a.
__________. A economia das trocas simbólicas. Introdução, Organização e Seleção de
Sergio Miceli. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998b.
__________. A profissão de sociólogo: preliminares epistemológicas. Trad. Guilherme
J.de Freitas Teixeira. Petrópolis: Vozes, 1999.
CANÁRIO, Rui. Os estudos sobre a escola: problemas e perspectivas. . In: BARROSO,
J. O estudo da escola. Porto: Porto Editora, 1996, p. 121-149.
DEROUET, Jean-Louis. O funcionamento dos estabelecimentos de ensino em França:
um objecto científico em redefinição. In: BARROSO, J. O estudo da escola. Porto:
Porto Editora, 1996, p. 61-85.
DESROCHE, Henri.Entreprendre d’apprendre: d’ une autobiographie raisonnée aux
projets d’une recherche-action. Paris: Editions Ouvrières, 1990.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam. 33.
ed. São Paulo: Cortez, 1997.
MORIN, Edgar. O Método: 3. O conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina,
1999.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
__________. Pesquisa-ação nas organizações. São Paulo: Atlas, 1997.


.

Nenhum comentário:

Postar um comentário