INTRODUÇÃO
O presente trabalho com o
tema Juventude do Campo e Transformações
Socioambientais no município de
Medicilândia/PA tem como princípio entender a relação da prática
educativa e seus reflexos no estágio supervisionado contemplando os saberes
acadêmicos dialogados no eixo Juventude e transformações socioambientais e
refletir a realidade a partir dessas práticas educacionais.
De forma direta, é dos
chamados “adultos” a incumbência de planejar as ações que venham transformar a
realidade social, econômica, política, mas a execução dessas ações será, em sua
grande maioria, feita pelos jovens. Seremos responsáveis pelos primeiros
passos, mas a jornada só terá sentido se a juventude partilhar desses sonhos e
objetivos.
E nesse sentido, este
trabalho acadêmico de pesquisa tem como norte o seguinte objetivo geral:
Entender a relação da prática educativa e seus reflexos no estágio
supervisionado contemplando os saberes acadêmicos dialogados no eixo Juventude
e transformações socioambientais.
Da mesma forma, deve
contemplar os seguintes objetivos específicos: Relatar sobre as Experiências
Educativas vivenciadas do Campo a partir dos discursos apontados pelas
instituições SEDUC-PA e CFR’s no município de Medicilândia; Intervir de forma
construtiva e crítica no processo ensino e aprendizagem na modalidade de Ensino
Médio, para que possam ir além de uma visão de educação tradicional; Construir
uma análise minuciosa a cerca das entrevistas com professores do ensino médio
da área das Ciências da Natureza e Matemática, para que oriente sua concepção
de currículo, planejamento e exercício na docência; Socializar nas escolas/comunidades
onde trabalham/moram e onde foi realizado o estágio docente e a construção do
relatório, devolvendo o que observaram no 5º Tempo Comunidade e 6º Tempo
Acadêmico;
O trabalho de pesquisa apresenta como tema “Juventude do Campo e Transformações
Socioambientais no município de
Medicilândia/PA” será dividido em tópicos desenvolvidos nos seguintes
passos: Introdução; Fundamentação teórica; Metodologia aplicada na pesquisa;
Resultados e discussão da referida pesquisa bem como a descrição da partilha
dos saberes e Considerações finais.
Na introdução é feita a
apresentação da temática, bem como a estruturação do trabalho. Na fundamentação
teórica está o embasamento científico pautado na obra de autores que já se
debruçaram sobre o tema. Na metodologia apresentam-se detalhadamente os passos
metodológicos da produção deste trabalho, desde o momento inicial com todo o
processo de planejamento. Nos resultados apresentam-se, de forma precisa e
objetiva os dados obtidos oferecendo assim maior veracidade às conclusões. É
neste momento que se encontra descrito todas as informações adquiridas no
decorrer do processo de construção desta pesquisa, informações que foram
adquiridas em observações, questionários e relatos, obedecendo as metodologias
de pesquisa adotada bem como a intervenção por meio do estágio. É neste tópico
que se encontra a partilha de saberes, sendo o momento de sistematização do
fazer acadêmico junto à comunidade. No ultimo tópico apresentado encontra-se as
considerações finais, onde se faz uma análise geral da proposta, detectando
todos os achados e comparando-os com os objetivos e assim observando a
configuração das metas a serem alcançadas, dentro desta análise é possível
identificar se os objetivos perseguidos foram alcançados de forma satisfatória
ou se algo ficou a desejar.
1.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na perspectiva que haveria muitos
modos para pôr em prática as ideias os trabalhos do sexto tempo acadêmico ou
“pôr em suspenso”, diria Bourdieu (1998 p. 49). Optamos em compartilhar nossas
intenções metodológicas e discutir com elas qual a pertinência de realizar
um trabalho mais consciente na escola e comunidade onde serão desenvolvidas as
atividades cabíveis, tendo como meta a possibilidade de se construir uma escola
de qualidade que contribua com o desenvolvimento do campo.
O que implica dizer que a qualidade é compreendida aqui tal qual
propunha Zákia Souza:
“uma escola de qualidade para todos, supõe
essencialmente “o compromisso de seus integrantes com a permanência das
crianças que nela ingressam com seu processo de desenvolvimento; a organização
de um trabalho que viabilize e estimule a apropriação e a construção do
conhecimento e a formação do sujeito social; o estabelecimento de relações de poder compartilhadas, privilegiando-se o
trabalho coletivo e cooperativo entre os profissionais da escola, alunos e
comunidade” ( SOUZA 2007. p. 33).
Com está perspectiva de
uma educação de melhor qualidade precisa-se dar melhor fundamentação as ações
pedagógicas desenvolvidas nas escolas, isso esta sendo uma busca constante
pelos profissionais da educação e todo o corpo que rege este país que estão
comprometidos com a educação, motivo pelo qual temos destacado a importância da
realização de debates pedagógicos que contemple todas as Modalidades de Ensino
dos estabelecimentos educacional(is), com o objetivo em aperfeiçoar
constantemente novos conhecimentos relativos às necessidades dos educandos.
Atualmente, busca-se no campo, mudar a realidade que
durante décadas deixou-se a margem nos planejamentos políticos do país, a luta
por mudança vem se intensificando a cada dia dando força a esses sujeitos que
habitam o campo e quer ter uma vida digna sendo respeitados seus diretos e suas
especificidades, ter
lazer, saúde, saneamento básico e educação, é algumas das reivindicações que
norteiam essas ações.
Além disso, há outras questões que precisam ser
analisadas para que a educação do campo possa realmente surtir efeito, isso se
remete a forma como o campo é enxergado politicamente e assim Fernandes (2006)
destaca os dois conceitos de campo que delibera aos olhos de quem ver as
políticas públicas pensadas para o meio rural:
Conceito de campo como território,
onde se realizam as diversas formas de organização do campesinato e também as
formas de organização da agricultura capitalista, denominada de agronegócio. O
campo pode ser pensado como território ou como setor de economia. O significado
territorial é mais amplo que o significado setorial que entende campo
simplesmente como um espaço de produção de mercadorias. Pensar o campo como
território significa compreendê-lo como espaço de vida, ou como um tipo de
espaço geográfico onde se realizam todas as dimensões da existência humana.
(FERNANDES 2006, p.28)
Aqui nessa pesquisa o sistema educacional do campo é
um dos grandes focos, onde se apresenta como a maior aliada para abrir novos
rumos na vida dos sujeitos do campo, essa educação presente hoje no campo, não
contribui para esses sujeitos, pois são moldadas na cidade por pessoas que não
possuem nenhum contato com o campo, não conhece a realidade e estão pouco
interessados no reflexo que isso trará para quem a recebe.
Hoje é na juventude que a sociedade deve
deposita a maior esperança de vivermos em um mundo melhor no futuro, por outro
lado, é também nesta clientela, que infelizmente encontramos mais ocorrências
dos principais problemas da atualidade, como: usuários de álcool, cigarros e
drogas; causadores e vítimas de acidentes de trânsito sofrem com o desemprego e
por isso muitos entram para a criminalidade.
Cabe ao poder público e a sociedade definirem ações direcionadas a proteger,
capacitar e gerar oportunidades aos jovens, de modo a mudar essa realidade.
Aquino (2009) corrobora com esses
pensamentos. Essas ações existem. De acordo com ela...
As diversas formas de tematizar a
juventude bem como as questões usualmente associadas à condição juvenil vêm
orientando, com peso ora mais decisivo, ora menos, as ações direcionadas aos
jovens. Tradicionalmente,
estas ações se concentraram nas áreas de educação e emprego – sob a
perspectiva da juventude como fase preparatória da vida – ou de saúde
e segurança pública – com o viés da juventude como
etapa
crítica. Em geral, tais ações não se estruturaram como elementos de uma
“política
de juventude”, mas como estratégias de atuação da sociedade para orientar
a
formação dos jovens. (AQUINO, 2009. p.35)
Nesse sentido, levando-se em conta os direitos e as redes
de proteção social e considerando-se as novas demandas juvenis que chegam ao
espaço público, Novaes (2009), classifica as PPJs como Universais Atrativas e
Exclusivas.
As PPJs universais são definidas como...
Políticas
setoriais dirigidas a toda a população, inclusive aos jovens. Nesta
perspectiva, estão as políticas educacionais, de trabalho e emprego, de
assistência social, de saúde, de cultura e de combate à violência. (...)
consideradas estruturais, implicam sistemas duradouros e instituições públicas
dotadas de orçamentos. Historicamente, constituem-se como direitos de
cidadania, motivo pelo qual destas se espera hoje que incorporem as
especificidades do recorte etário – direitos difusos – e, assim, incorporem
questões singulares da atual geração juvenil. (NOVAES, 2009, p. 19).
Vale ressaltar aqui que essas políticas não são dirigidas
apenas aos jovens, mas a toda a população. Nesse contexto, os jovens foram
incluídos como elementos da população, dentro da dualidade inclusão x exclusão.
Já as PPJs atrativas são definidas como...
...aquelas que não são
dirigidas apenas aos jovens, mas têm especial incidência sobre eles: seja por
afinidade com a natureza da política – por exemplo, os Pontos de Cultura seja
porque lhes abrem oportunidades específicas – como aquelas que regulam fluxos
migratórios –, seja porque, mesmo voltadas para espaços territoriais, onde
convivem diferentes faixas etárias, afetam particularmente os jovens – por
exemplo, as políticas de segurança e combate à violência. No geral, podem ter
um caráter emergencial ou experimental, ou combinar as duas dimensões. (NOVAES,
2009, p. 19).
As únicas políticas específicas para os jovens são
aquelas definidas como exclusivas, não no sentido de exclusão, mas no sentido
de exclusividade. Novaes, 2009, as define como...
...
aquelas voltadas apenas para uma faixa etária predefinida entre 15 e 29 anos.
Sejam estas na área de educação, trabalho, desenvolvimento social, saúde,
cultura, migração, segurança, constituem-se em programas e ações emergenciais
para jovens excluídos ou em situações de exclusão desfavorável. (NOVAES, 2009,
p. 20).
Essas três categorias fazem parte de um conjunto, que na
maioria das vezes encontram dificuldades de implementação, que segundo Novaes
(2009), é dada pelo fato de essas políticas estarem sob a “responsabilidade de
diferentes ministérios, secretarias e outros organismos Governamentais”. Assim,
o desafio primordial é fazer que os ministérios compartilhem concepções
semelhantes sobre a atual condição
juvenil e se orientem por um mesmo objetivo para formular e
implantar políticas voltadas para cada faixa etária. Essas são estratégias
encontradas para confirmar as políticas, segundo a autora que afirma “... vários
esforços têm sido feitos no sentido de elaborar parâmetros e descobrir caminhos
que permitam a construção de uma Política Nacional de Juventude.”(NOVAES,
2009. p.21)
Mesmo assim, ainda a muito
que se fazer, pois não se deve apenas incluir os jovens nessas políticas, mas
também devem ser criados mecanismos que facilitem a permanência dos mesmos, uma
vez que o próprio sistema é excludente, principalmente em relação às juventudes
do campo.
A
educação numa perspectiva ontológica deve considerar jovens e adultos como
seres históricos, que constroem sua história nas relações existentes na
sociedade. Tais relações vão desde o seu primeiro contato social que é a
família até as relações mais complexas da sociedade como as relações de
trabalho e as relações políticas. Assim, cada um constrói sua formação a partir
do que acha certo ou errado, das oportunidades que teve e da forma como vê o
mundo. A educação tem que considerar jovens e adultos como sujeitos de uma
sociedade de muitas lutas e conquistas, mas, também, de contrastes sociais, de
exclusão, de opressão etc.
A educação de jovens
e adultos deve ser sempre uma educação multicultural, uma educação que desenvolva
o conhecimento e a integração na diversidade cultural... Considerando a própria
realidade dos educandos, o educador conseguirá promover a motivação necessária
à aprendizagem, despertando neles interesses e entusiasmos, abrindo-lhes um
maior campo para atingir o conhecimento. (PRESSUPOSTOS..., p.38 DA APOSTILA)
Portanto, tratar da educação com uma visão aberta pro
novo e não simplesmente fazer a reprodução de conhecimentos prontos e acabados
requer aplicar conteúdos em que os educandos não se sintam excluídos de suas
realidades. Mudar essa educação é aperfeiçoar as práticas pedagógicas
valorizando os saberes empíricos agregando valores às práticas cotidianas e
possibilitando novas descobertas com os saberes vivenciados em sala de aula.
Nessa perspectiva, o processo de construção do
conhecimento dos sujeitos deve considerar todos os elementos culturais e
sociais que fazem parte do ambiente em que ele está inserido. Não deve-se
abandonar suas crenças, suas formas de compreensão do meio, mas diferenciá-las
de outras formas de compreender os mesmos fenômenos numa outra visão, nesse
caso, a científica.
Não
se pode traçar um perfil único da juventude rural, seja pelos diferentes
contextos socioeconômicos e culturais em que esta vive, seja pela escolha dos
critérios que possam delimitá-la. Esquematicamente, a identificação do ser
jovem passa pelos seguintes marcadores: faixa etária, período de transição
para a vida adulta, aceitação/contraposição a valores e práticas sociais
tradicionais,especificidades na interação social e absorção de novos
comportamentos. (FERREIRA e ALVES, 2009, p 246).
Para
a sociologia a concepção de juventude é o período de interstício entre funções
sociais da infância e as funções sociais do homem adulto. Porém,
quando se trata da juventude do campo, a faixa etária não é determinante, pois
existem outros fatores que servem para caracterizar o sujeito. No campo muitos
jovens não recebem salário, uma vez que trabalham na propriedade da família,
que futuramente será sua. Para os autores acima citados, essa é uma lógica
fundamental.
Na
lógica da agricultura familiar, as relações produtivas têm como base
compromissos e obrigações familiares. Disto decorre o fato de o trabalho de
todos os seus integrantes, inclusive os jovens, não envolver questões
salariais, porque tem como finalidade a reprodução social da família e unidade
produtiva, tanto no ciclo curto – reprodução biológica –, como no ciclo longo –
reprodução geracional –, e não a acumulação de capital. [...] O processo de trabalho
organiza tanto o espaço agrícola como o das relações sociais de gênero e
geração. Por isso, a passagem de jovem para adulto só será
reconhecida quando ocorrer a construção de uma unidade produtiva autônoma, após
o casamento ou a passagem sucessória do estabelecimento familiar de pai para
filho. (FERREIRA e ALVES, 2009, p 249).
Os jovens
moldam suas vocações, reconhecendo em si potencialidades e também limites.
Voltam seus olhos para os respectivos grupos familiares. Tornam-se apoio
potencial de seus pais e irmãos mais novos. Porém, quando a família é
numerosa e a propriedade já passou por diversas subdivisões, essa lógica cria
um processo de exclusão, que obriga, na maioria das vezes, os jovens deixarem o
campo e buscarem um emprego remunerado na cidade.
A luta aqui é para que o povo do campo possa ter a opção
de escolher onde ele deseja morar, se no campo ou na cidade e não ser obrigado
a abandonar o campo por ele não oferecer condições necessárias a existência
humana, e como consequência enfrentar as periferias das cidades, vivendo na
marginalização, excluídos de um processo humanizador.
É importante ressaltar
que, para que se alcance uma boa educação do campo é necessário também que se
construa um Projeto Político Pedagógico (PPP) que traga em sua composição
conteúdos que façam a diferença, que esteja apoiado em um currículo construído
a partir de atitudes humanitárias que enxergue a sociedade envolvida, na sua
essência. Se o currículo que permeia tal espaço não estiver contido de
interesses que abarque a melhoria de vida comunitária. Assim fica claro a
importância de se discutir quais concepções devem ser elencadas, nos currículos
que perpassam as escolas, principalmente as escolas do campo.
Diante
dessa realidade que se encontra hoje a educação escolar presente no campo, tudo
é empurrado da cidade, os PPP e currículos escolares não são diferentes, são
construídos sem a participação dos moradores da comunidade, elaborados somente
a partir de uma exigência legislativa, quando as maiorias dos sujeitos do campo
desconhecem a pedagogia que pondera seu espaço, assim se posiciona Freitas
(1991) que:
...as novas formas têm que ser
pensadas em um contexto de luta de correlações de força – as vezes favoráveis,
às vezes desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, com o
apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas por alguém,
longe da escola e da luta da escola. (FREITAS 1991, p.23 apud VEIGA, 2002).
Não
há como alcançar uma educação no campo que envolva as questões sociais daquele
local, aceitando PPP construídos fora do espaço escolar, Não se pode buscar uma
educação do campo, aceitando currículos que não enxerga o educando do campo não
se leva em consideração a sua família na roça.
Não se trata de uma simples mudança, mas de algo que
deve superar várias questões, uma delas é a descentralização do poder, para que
a escola possa andar com suas próprias pernas e para que cada um dos envolvidos
no processo educacional possa sentir-se capaz e comprometido com sua função no
espaço escolar, como corrobora Veiga (2002, p. 2), não podem mais:
Ser dirigidas de cima para baixo e na
ótica de poder centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico
burocrático. A luta da escola é para a descentralização em busca de sua
autonomia e qualidade”.E para que a escola do campo alcance sua autonomia,
torna-se necessário mudanças significativas no seu interior, ou seja, “resgatar
a escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão
coletiva” (VEIGA, 2002, p.2).
Essas
situações raramente acontecem nos dias de hoje, conforme Veiga (2002):
O projeto busca um rumo, uma direção.
É uma ação intencional, com um sentido explícito, com compromisso definido
coletivamente. Por isso todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto
político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os
interesses reais e coletivos da sociedade majoritária. É político no sentido de
compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. Na dimensão
pedagógica reside a possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola,
que é a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico
e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas e as
características necessárias ás escolas de cumprirem seus propósitos e sua
intencionalidade. (VEIGA, 2002, p.1)
O
PPP durante o processo educativo escolar necessita de uma avaliação
periodicamente, coletivamente com educadores, pais, alunos, coordenação
pedagógica e todos os funcionários da escola, para que assim sejam observadas
as metas alcançadas e as que só estão ocupando papel e não foram postas em
prática, assim se reafirma o que foi falado anteriormente, que o PPP deve está
ao alcance de todos. Nesse contexto Veiga, 2002, enfatiza que:
Acompanhar as atividades e avaliá-las
levam-nos a reflexão com base em dados concretos sobre como a escola
organiza-se para colocar em ação seu projeto político-pedagógico. A avaliação
do projeto político-pedagógico, numa visão crítica, parte da necessidade de
conhecer a realidade escolar, busca explicar e compreender
ceticamente as causas da existência de problemas bem como suas relações, suas
mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação coletiva). A
avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser instrumento de exclusão dos
alunos provenientes das classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática,
deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de
conhecimentos científicos, sociais tecnológicos produzidos historicamente e
deve ser resultante de um processo coletivo de avaliação diagnóstica. (VEIGA,
2002 p.9).
Trabalhar
com uma gestão democrática no campo propiciará a um novo cenário onde todos
serão respeitados igualitariamente, o povo poderá contribuir com a organização
da escola porque é a eles que ela pertence, barreiras irão ser quebradas e os
sujeitos do campo poderão mostrar que são capazes, desmistificando a imagem
imposta pela elite como lugar de atraso, atenuando essa concepção de educação
urbanocêntrica.
No
século em que se vive, torna-se inaceitável conviver em um espaço escolar onde
poucos mandam e a maioria tem que obedecer, onde pais e mães não conseguem ter
vez e voz para argumentar suas reivindicações, infelizmente no campo isso ainda
acontece, e são várias as pessoas que contribuem para que isto aconteça, a
negligência começa dos poderes mais elevados até os menores. Diante dessas
questões não se pode ficar no silêncio, quando muitos são massacrados e humilhados.
O respeito,
a dignidade, a solidariedade, assim como outros princípios devem está presentes
no espaço escolar, além disso, a valorização dos profissionais da educação é um
direito que não pode ser esquecido de assegurá-lo, para que a qualidade do
ensino esteja sempre em elevação, vale lembrar que esse direito é respaldado
por lei. De acordo com Veiga:
A qualidade do ensino ministrado na
escola e seu sucesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar da vida
socioeconômica, política e cultural do país relacionam-se estreitamente a
formação (inicial e continuada), condições de trabalho (recursos didáticos,
recursos físicos e materiais, dedicação integral a escola, redução do número de
alunos na sala de aula etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à
profissionalização do magistério. A formação continuada é um direito de todos
os profissionais da educação, uma vez que não só ela possibilita a progressão
funcional baseada na titulação, na qualificação e na competência dos
profissionais, mas também propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento
profissional dos professores articulados com as escolas e seus projetos. (VEIGA
2002, p.4).
Na educação escolar, principalmente a que permeia o
campo, o educando (a) tem que ser vistos como seres que precisam de educadores
e educadoras conscientes, conscientes do seu papel e sua responsabilidade
diante daqueles sujeitos, que estão em um banco de escola com a esperança de
obter conhecimentos que possam refletir no dia-a-dia da sua comunidade. Tem de
haver o compromisso dos educadores e
educadoras no currículo, e ser posto em prática no dia-a-dia escolar, resultará
em uma educação capaz de combater a ideologias que transmitem interesses
relacionado à elite dominante, que explora e marginaliza os menos favorecidos.
A educação que se aspira no campo, deve
abranger todas as esferas, dentro e fora da escola, construída a partir de
decisões consciente com a participação de toda a comunidade onde a escola
estiver inserida, só assim os reflexos de uma educação decente irão ajudar a
transformar a vida do povo.
2. METODOLOGIA
As atividades do sexto Tempo Comunidade foram realizadas
entre os meses de março e junho de 2012. Os dados analisados são de natureza
primária, obtidos por meio de questionário estruturado, pesquisa, estagio, observações
e entrevista na Casa Familiar Rural de Medicilândia, Comunidade São Francisco
de Assis e professores do Sistema Modular de Ensino (SOME) no município de
Medicilândia Pará, localizado as margens da rodovia transamazônica. Além da
pesquisa e estagio foi feito uma mobilização na escola Benjamin Constant escola
para a construção do PPP.
Tanto a pesquisa quanto o estágio do sexto tempo comunidade foram
realizados, compreendendo sua importância para a realidade local e formação dos
professores que atuam no campo, no contexto da educação do campo, que serão
socializadas na partilha de saberes no sétimo tempo comunidade para os demais
sujeitos pesquisados, que segundo Severino (2007) tais atividades foram
contempladas no paradigma epistemológico dialético, como sabemos, uma
pesquisa é um processo de
construção do conhecimento tendo como metas principais gerar novos
conhecimentos e efetuar algum conhecimento pré-existente.
Para
a realização da pesquisa apresentada no presente trabalho, houve a necessidade
de recorrer ao uso de uma opção epistemológica na qual a relação sujeito x
objeto aconteça dentro de um contexto histórico, ocorrendo uma reciprocidade
entre eles. Por se tratar de uma pesquisa de cunho acadêmico e científico,
fizemos o uso do pressuposto epistemológico da Dialética, alicerçados nos
preceitos de Severino (2007).
Nas
atividades de pesquisa desenvolvidas e na partilha dos saberes foi utilizado
como método cientifica uma abordagem qualitativa que segundo Severino (2007)
não pode limitar-se apenas a fenômenos naturais de causa e efeito medido por
funções matemáticas. A escolha do método qualitativo vem suprir a abordagem
matemática que deixava escapar aspectos relacionados com sua condição
especifica do sujeito.
Quando
afirmamos que é uma abordagem qualitativa, isso deve-se ao fato de ter sido
feito o uso de uma metodologia voltada a pesquisa, capaz de atender as
múltiplas realidades, onde o todo é mais que a soma das partes, e esta
abordagem nos permite analisar profundamente os dados recolhidos durante a
referida pesquisa no sexto tempo comunidade.
Quanto à natureza da fonte
de nossa pesquisa, optou-se por fazer a pesquisa de campo, uma vez que a mesma
está voltada para o estudo de indivíduos, comunidade, grupos, com o objetivo de
compreender os mais diferentes aspectos de uma determinada realidade. Também se
tomou como referencial o fato do “objeto” de nossa pesquisa ter sido observado
no lócus próprio, em condições
naturais, buscando compreender os aspectos gerais formadores da realidade da
comunidade, o que de acordo com Severino (2007) é imprescindível numa pesquisa
desta natureza.
Após determinar a natureza
da pesquisa, foi feita a opção pelo caráter da mesma, como perspectiva de
aprofundar o conhecimento da realidade, optou-se pela pesquisa explicativa,
pois almeja-se explicar o “por que” das
coisas, visando identificar os motivos que determinaram ou contribuíram para
formação da realidade. Severino (2007) afirma que é necessária uma análise
profunda do tema de forma a entender as causas e efeitos da situação. Esse
caráter aprofunda mais o conhecimento da realidade, pois tem como preocupação
central identificar fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos
fenômenos.
Também a utilização da
técnica de observação por ser imprescindível na realização de qualquer
pesquisa. Se essas observações tiverem alguma verdade, elas poderão ajudar-nos
a enfrentar com mais clareza as mudanças que estão por vir.
Fizemos o uso da dialética
dada à necessidade de diálogo entre educadores e também com os sujeitos da
comunidade. Nessa dinâmica, a pesquisa fundamentou-se buscando experiências dos
jovens discentes da CFR de Medicilândia, bem como a experiência dos docentes do
SOME do município de Medicilândia. Ambos estão relacionadas ao contexto social,
político e econômico local. Tal atividade buscou priorizar que tipo de educação
que chega aos discentes, tanto da CFR quanto do SOME.
A utilização da abordagem
qualitativa se deu durante as atividades de construção do PPP, bem como no
momento da aplicação do questionário semiestruturado aos docentes do Ensino
Médio. Ela foi muito útil como
ferramenta para determinar o que é importante para os docentes, discentes e
pais dos alunos da CFR de Medicilândia.
Foi utilizada a pesquisa
de campo porque havia a necessidade se acompanhar os discentes da CFR aplicando
as atividades da ação interventiva in
lócus, e também pelo fato de se pesquisar a realidade das comunidades para
que sua realidade seja contemplada pelo PPP da CFR.
O
I relato de experiências educativas vivenciadas do campo teve como propósito
expor as experiências educativas aplicadas no campo pelas instituições que
cuidam da educação. A atividade teve
como tema “O papel da educação no Campo”, participaram dois palestrantes (um
representando a CFR e FVPP e outro representando a 10ª URE e SOME) e como
participantes os discentes do Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo-
ProCampo. A
referida atividade contabilizou uma carga horária de 20 horas.
Foi
realizado também o planejamento de uma ação interventiva multidisciplinar no
Ensino Médio. Esta atividade compreendia a realização de um
projeto de intervenção na área de formação escolhida, com etapas que envolvem
planejamento (20h), execução (30h) e produção de relatórios (30h), com carga
horária total de 80 h. Para a realização desta intervenção, houve a necessidade
de se fazer uma atividade integradora, por meio de palestras e atividades
práticas desenvolvidas durante a Alternância da CFR de Medicilândia.
Como
atividade complementar, com carga horária de 30 horas, foi sugerida que se
fizesse uma entrevista com docentes que atuam no Ensino Médio, para que
fossemos orientados em relação à concepção de currículo, planejamento e
exercício de docência.
Tal
atividade foi realizada com os docentes do SOME do município de Medicilândia,
com os professores titulares da área das Ciências da Natureza e Matemática. A
mesma foi feita com os discentes das disciplinas de Matemática, Química, Física
e Biologia, através de um questionário dirigido semi-estruturado.
As
ações de construção do PPP são na verdade reuniões de trabalho da comissão de
professores, pais e alunos para discutir sobre objetivos, princípios, concepção
do PPP da escola, entre outros, bem como realizar atividades envolvendo a
comunidade escolar nessa construção.
A partilha de saberes
referente ao VI Tempo Acadêmico foi realizada na E. M. E. F. Benjamin Constant,
localizada na comunidade são Francisco de Assis, vicinal norte do km 85, da
rodovia Transamazônica (Altamira-Itaituba), em Medicilândia, numa reunião para
este fim exclusivo, com pais, responsáveis, professores, alunos e comunidade em
geral, e pela equipe da partilha de saberes composta pelos discentes do IFPA
Agnaldo Fernandes da Silva, Carlos Rangel de Novais, Carlos Diego Ignácio de
Souza, José Maria Campos da Silva, Luciano Ulatoski, Maria da Conceição dos
Santos, Rosane silva de Campos e Valmir Santos da Costa.
3.
RESULTADOS
3.1 Relato de Experiências Educativas vivenciadas do Campo
O
I relato de experiências educativas vivenciadas do campo aconteceu dia 27 de
janeiro, no auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Pará-IFPA, campus Altamira e teve como propósito divulgar as ações e as
experiências que estão sendo tomadas e realizadas no
que tange a Educação do Campo na região da Transamazônica e Xingu.
Tal relato teve como tema “O papel
da educação no Campo”, e como participantes os discentes do Curso de
Licenciatura Plena em Educação do Campo- ProCampo, e teve como palestrantes o
representante da Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP) e Casa Familiar
Rural (CFR), Luiz Paulo Alves Portugal e a senhora Aparecida Ferreira,
representante do Sistema Modular de Ensino (SOME) e da 10ª URE (Unidade
Regional de Educação). Teve como mediadora a docente Andreany Santos, sendo que
esta atividade contemplou 20 horas de estudo.
O relato foi dividido em dois
momentos. No primeiro momento os relatos ficaram a cargo do representante da
FVPP e CFR. O mesmo relatou a proposta das redes Centros Familiar de Formação
por Alternância (CEFAS) para a Educação do Campo, bem como a legislação
vigente, levando em conta uma Educação do Campo que considere essa realidade,
mas que não esteja na ilegalidade.
Dando
prosseguimento, foi relatada a busca pela legalização da implantação do Ensino
Fundamental de nove anos, junto ao Conselho Estadual de Educação (CEE), bem
como a luta das EFAS, CFR, CEFAS por parceria entre as mesmas e o Estado. (Este
último só aceita a parceria se as Instituições cederem toda a estrutura que já
possuem.).
Em
seguida foi relatada a luta pelo reconhecimento da proposta trabalhada por
essas instituições através das 221 redes CEFAS (CFR e EFA), que buscam o
fortalecimento da Agricultura Familiar, dentro da modalidade adotada, que é a
Pedagogia da Alternância, dentro da perspectiva de observar, refletir e
praticar. Foram mostradas também as atividades desenvolvidas por essas
instituições de ensino.
O
segundo momento do Relato de Experiências ficou a cargo da representante do
SOME e 10ª URE, Aparecida Ferreira. A
mesma fez um breve histórico da criação do SOME em 1980 com responsabilidade da
Federação de Educação Paraense (FEP), passando para a responsabilidade da 10ª
URE, quando esta foi fundada em 1982. Comentou também da expansão do mesmo, que
atualmente engloba em 21 localidades, dentre as quais estão: Altamira, Anapu,
Souzel, Vitória do Xingu, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e tendo Porto de
Moz vindo a ser uma das mais novas a fazer parte e atuar no SOME em 2012.
Informou que o período
letivo é dividido em quatro módulos, onde os professores fazem rodízio
permanecendo 50 dias em cada localidade. Possuindo circuitos onde existem entre
4, 5 e 6 localidades que atuam o SOME. Segundo os dados apresentados são 58
professores, sendo 46 concursados e 12 contratados com carga horária de 200
horas. A importância deste trabalho é atender a comunidade referente aos
valores culturais, lideranças, agricultura familiar enfim buscar soluções para
supera problemas junto às lideranças. Muitos desafios enfrentados são:
Reorganização curricular, parceria com prefeituras e visitas as localidades
mais distantes. As prefeituras são responsáveis pela mobiliar do alojamento dos
docentes e alimentação.
A
atividade foi encerrada com a representante relatando importância do SOME esta
“levando” educação não só aos centros urbanos, mas também ao campo.
Como atividade
integradora, havia a necessidade de se pensar uma ação interventiva por meio de
uma oficina temática envolvendo estudantes do Ensino Médio (a juventude do
campo) podendo ser realizada nos diversos espaços: na escola, na associação,
localidade.
A atividade integradora,
compreendida em uma ação de intervenção por meio de uma oficina temática
envolvendo a juventude do campo foi realizada com estudantes do Ensino Médio da
Casa Familiar Rural de Medicilândia, e teve como finalidade desenvolver
atividades relacionadas à área das Ciências da Natureza e Matemática.
Esta atividade compreendeu a
realização de um projeto de intervenção na área de formação escolhida, com
etapas que envolvem planejamento, realizada em nossa própria residência,
execução, desenvolvida na CFR de Medicilândia, e a produção de relatórios.
O planejamento foi iniciado
delineando o tema a ser desenvolvido, tal planejamento teve a duração de vinte
horas e foi realizado nos dias 20, 21, 22 e 23 de maio do corrente ano, em
conjunto com os discentes Carlos Rangel e Carlos Diego.
Inicialmente foi feita a
escolha dos temas a serem desenvolvidos, bem como estratégia a ser utilizada.
Depois foi escrito o projeto de intervenção, utilizando para isso conhecimentos
assimilados durante os Tempos Acadêmicos e Tempos Comunidades anteriores, bem
como elencado o tema gerador de acordo com a Alternância atual da CFR, obtido
após uma visita no dia 23 de maio.
Em seguida, deu-se continuidade
da atividade na CFR de Medicilândia. Tal atividade de intervenção foi
desenvolvida em três momentos. Um momento de palestra, realizado no dia 25 de
maio, das 14:00 as 22:00 horas. Um momento de aplicação teórica, realizado no
dia 22 de junho de 2012, das 08:00 as 17:30 horas. E um terceiro momento, de
aplicação das atividades desenvolvidas durante a palestra e a atividade teórica.
O momento de desenvolvimento prático se iniciou na própria CFR e depois foi
continuado nas propriedades dos discentes, através de atividades práticas.
Essas atividades práticas foram desenvolvidas durante a parte da alternância em
que os discentes estavam em suas propriedades. Tais atividades práticas foram
realizadas em visitas, individuais e em conjunto com os discentes da referida
instituição.
No primeiro momento, que foi a palestra, foi
apresentada dinâmica da LPEC, bem como explanado sobre o desenvolvimento do
curso. Em seguida, foi palestrado sobre a aplicação da geometria plana nas
atividades do campo, com o tema “Matemática aplicada ao Campo”.
Nesta atividade foram
explanadas as dificuldades de se aproximar o “conhecimento da Vida ao conhecimento
da Escola”. Em seguida, foi desenvolvido um pequeno seminário sobre a aplicação
da Matemática ao dia-a-dia do Campo, com a aplicação do cálculo de área de
figuras geométricas planas, com a transposição desses cálculos para os cálculos
de superfície, com a “cubação de terra” das propriedades. Nesta atividade foram
apresentadas as principais unidades de medidas agrárias, como o alqueire, o
hectare e a tarefa ou linha, bem como feita a transposição da teoria para a
prática.
Posterior as atividades de cálculo
de área, foram desenvolvidas atividades teóricas de cálculos de volume.
Inicialmente foram desenvolvidos cálculos para a cubagem de madeira serrada.
Posteriormente foram desenvolvidas atividades envolvendo o cálculo de volume de
madeira em toras. Nesta atividade foram explanadas sobre as três formas que
esse cálculo de volume é feito, citando a utilizada pelos madeireiros e pelo
IBAMA.
Essa foi à atividade que mais
chamou a atenção dos alunos, pois é algo que eles devem desenvolver no
dia-a-dia. A maioria desses é filho (a) de agricultores, e como voltam seus olhos para os
respectivos grupos familiares, buscam aprender o assunto, pois logo se tornarão
donos das propriedades, dentro da realidade apresentada nas bases teóricas.
Tal atividade foi de fundamental importância
dentro do projeto interventivo, pois esta atividade veio complementar as
atividades desenvolvidas pelos docentes da CFR de Medicilândia.
A mesma contabilizou uma carga
horária de 80 horas, sendo: planejamento (20h), execução (30h) e produção de
relatórios (30h).
Uma das
características da entrevista semi-estruturada é a utilização de um roteiro
previamente elaborado. Após a entrevista feita através de um questionário semi
estruturado aplicado aos docentes titulares das disciplinas da área das
Ciências da Natureza e Matemática, pode-se perceber que a realidade encontrada
pelos docentes do SOME (Sistema de Organização Modular de Ensino) é basicamente
a mesma.
Dos três docentes entrevistados,
todos têm mais de cinco anos de “sala de aula”, sendo que dois deles esta
trabalhando há três anos no médio e um apenas um ano, e no que tange a
formação, um é licenciado em ciências naturais com habilitação em biologia;
outro em especialista em metodologia do ensino de matemática e física, e outros
cursos de formação na área de educação do campo; o terceiro apenas licenciatura
em matemática.
Referente à
visão deles sobre o Ensino Médio, percebe-se que um dos entrevistados têm uma
visão mais crítica, vendo a modalidade não muito significativa para o aluno, mas
como um degrau obrigatório que o aluno passa para prestar concursos e
vestibulares, acreditando mais em cursos profissionalizantes. Enquanto os outros
acreditam que é uma fase preparatória dos discentes, dando suporte para o
futuro dos indivíduos, sendo uma etapa decisiva, onde de forma consciente faz a
diferença na trajetória dos mesmos.
Em relação aos recursos especiais,
eles utilizam os que a escolas dispõem, sempre que necessário e possível. Mesmo
assim, pode-se perceber que eles não se prendem apenas a tecnologia, e fazem o
uso de materiais como cartolina, papel cartão, papel madeira, entre outros, não
se prendendo apenas aos livros didáticos, também são muito utilizadas as aulas
de campo, ou seja, por em pratica fora do ambiente escolar aquilo que se teve a
teoria em sala de aula, todos esses matérias alem de servi como subsidio ou
professor facilita o ensino aprendizagem dos alunos.
Os mesmo não se prendem a nenhum posicionamento teórico específico, pelo fato
de a educação estar em um processo de mudança, e cada localidade terem uma
realidade diferente acompanhando ou tentando acompanhar o ritmo da sociedade.
Sendo que um do entrevistado gosta muito das obras de Paulo freire. Sempre que
desenvolvem suas atividades, busca trabalhar a diversidade dos alunos,
relacionando o conhecimento da disciplina a realidade dos alunos.
Os materiais usados
pelos professores de ensino médio dependem muita da escola que estão
trabalhando, algumas é possível mostrar ao seu aluno material concreto que
facilita a aprendizagem dos demais, materiais esse como exemplo Podemos citar:
data show, filmes, laboratório. Não temos um material didático que vem trazer a
realidade dos alunos, hoje os livros didáticos mostram a realidade mais do sul
e sudeste, sempre precisando a readaptação desses materiais a realidade da
comunidade. Um dos entrevistados segundo ele, não trabalha com nenhum material
adequado a realidade local, pois o mesmo diz esta preparando seus educandos
exclusivamente para prestar o vestibular.
Como se trata de SOME a
maioria dos alunos dessa modalidade de ensino são filhos de agricultores,
encontrando também ribeirinhos e pescadores, pessoas de classes baixas, tendo
uma variação do modo de vida dependendo da comunidade, indivíduos que lutam
para enriquecer seus conhecimentos.
Para eles, as maiores as dificuldades encontradas na prática
profissional do Ensino Médio são as condições físicas das escolas, a
falta de recursos e materiais, livros descontextualizados, desmotivação dos
alunos, ausência de autonomia das escolas, falta de energia elétrica nas
escolas, falta de laboratório e biblioteca, não tem calendário especifico para
região obedecendo aos meios de produção de acordo que os alunos possam
trabalhar em sua propriedade e estudar, contribuindo na renda da família entre
outros.
Com o desenvolvimento dessa
atividade pode-se perceber e compreender os anseios dos educadores, bem como é
feita, em partes, a sua prática docente. A mesma teve fundamental importância
como complemento desta atividade de Tempo Comunidade.
3.4 Projeto Político Pedagógico: uma
construção coletiva
Sonhamos com uma sociedade
mais justa, mais ética, mais humana, mais solidária, para isso, necessitamos de
uma escola que se preocupe em formar pessoas não apenas reprodutores, mas que
sejam capazes de julgar a realidade e interferir nela de forma crítica e
consciente. Toda instituição que deseja construir este modelo de sociedade,
necessita efetivamente de planejamento. O fator decisivo deste é a percepção
dos sujeitos envolvidos e da necessidade de mudar a realidade nela inserida.
Para que uma mudança
acontecer, cabe a escola intervir e dará seus primeiros passos, pois, como se
sabe, a escola é e deve ser cada vez mais, um lugar de valorização das
necessidades de diferentes contextos comunitários. As percepções, disposições são construídas nas
complexas relações culturais que estabelece socialmente. Tais relações são
particularmente ricas e desafiadoras no ambiente escolar; é na escola que
aprende e internaliza boa parte daquilo que pensam e que são capazes de fazer
no espaço em que vivemos.
As atividades de construção do PPP
tiveram continuidade na E. M. E. F. Benjamin Constant. Essa continuidade foi feita levando para a
comunidade a qual a escola esta inserida, o texto redigido através da análise
das respostas obtidas com o questionário aplicado anteriormente. Também foram
feitas visitas a Secretaria Municipal de Educação para que tivéssemos um parecer
sobre a realização dessa atividade. A parte negativa foi à posição tomada pela
referida secretaria, que foi: podem continuar com a discussão, é pertinente
para a realidade escolar, mas no momento não será feito o PPP desta escola, uma
vez que a mesma funciona como anexo da E. M. E. F. Gaspar Vianna, e o PPP da
Gaspar Vianna, foi construído no ano de 2011 e estava em aprovação por parte do
Conselho Estadual de Educação.
3.5 Partilha dos Saberes
A socialização da partilha
dos saberes tem como objetivo a intervenção dos pesquisadores na comunidade,
com intuito de mostrar informações precisas à realidade do Campo, na partilha e
troca de conhecimentos assimilados nos Tempos Acadêmicos, fazendo sua
transposição para a prática. Sua ligação com a comunidade/lócus de pesquisa é
essencial para o desenvolvimento de atividades, uma vez que essas atividades de
pesquisa têm seu gênesis nas comunidades.
A partilha dos saberes do
VI Tempo Acadêmico aconteceu dia vinte e três de junho de dois mil e doze, na
Comunidade São Francisco de Assis, vicinal norte do km 85 da Rodovia
Transamazônica (Altamira-Itaituba), em Medicilândia. Tal atividade foi iniciada
às 10h30min da referida data, com a reapresentação da equipe da partilha. Após
a apresentação da equipe, foi
apresentada dinâmica da LPEC, bem como explanado sobre o desenvolvimento do
curso. Em seguida, foi palestrada sobre a aplicação dos conhecimentos obtidos
com as pesquisas realizadas na Comunidade, sua interpretação científica e sua
posterior transposição nas atividades de partilhas de saberes, bem como a
utilização desses conhecimentos para melhorar o processo de
ensino-aprendizagem-ensino.
A reunião foi realizada no mesmo dia e lócus da reunião
que tratava do PPP da escola. Na mesma, entre outros assuntos, foi tratada a
questão da juventude, principalmente pelo fato de ser na juventude que a sociedade deposita as maiores esperanças de vivermos
em um mundo melhor no futuro, e infelizmente por serem os jovens, a parcela da
população onde se tem mais ocorrências dos principais problemas da atualidade.
Por ser entre os jovens estão os maiores índices de usuários de álcool,
cigarros e drogas; causadores e vítimas de acidentes de trânsito. Por serem
eles que mais sofrem com o desemprego, e os que entram para a criminalidade.
Foi discutida nesta partilha também que,
o problema da juventude medicilandense está na falta de opção para os jovens,
pois não tem um local para a prática de esportes. Na ausência da escola em
cumprir o seu papel social e sem a opção de escolher, alguns jovens acabam
buscando caminhos que não lhes oferecem possibilidade de futuro: o caminho das
drogas, da violência, da prostituição.
Na referida partilha houve também um
debate sobre a direção que está sendo dado e o caminho que está sendo seguido
pela Educação de forma geral e em especial a Educação do Campo.
Foi o melhor momento da
reunião, pois os pais e até mesmo os alunos puderam expor suas angustias,
medos. Com a participação da equipe da partilha conduzindo o debate, ele foi
muito proveitoso, pois mais que debater, a comunidade mesmo estando distante da
realidade das escolas da cidade, indicaram caminhos, soluções, que se não
sanarem os problemas, de certa forma amenizam a situação.
Entre os caminhos indicados
estão à construção de centros de lazer, salas de leituras, programas e projetos
que tragam os alunos para a escola no horário contrario ao de estudo, para que
possam estar desenvolvendo atividades que enriqueçam o currículo escolar e que
sirvam para atrair a atenção dos alunos e desviá-los do foco da violência e das
drogas.
Mesmo sem o conhecimento cientifico, a comunidade sabe
que existem ações a serem tomadas. Essas ações
planejadas pelo poder público e a sociedade civil devem definir planos e ações
direcionadas a proteger, capacitar e gerar oportunidades aos jovens, de modo a
mudar os números dessa realidade, que mostra os jovens como causadores dos
males da sociedade.
Segundo Aquino (2009), diz que “Tradicionalmente, estas
ações se concentraram nas áreas de educação e emprego – sob a perspectiva da
juventude como fase preparatória da vida – ou de saúde e segurança pública –
com o viés da juventude como etapa crítica”.
Essas
ações, como tantas outras existem, mas apenas como arquivos teóricos. Que por
descuido dos gestores, não são aplicados. A comunidade cobrou muito a
realização delas, pelo fato de existirem leis que visam à proteção, a inclusão
dos jovens, mas que não passam de arquivos teóricos que ninguém vê na prática. Se as escolas de fato estivessem
cumprindo seu papel social, a discussão aqui seria bem diferente das que se
trata nas realidades escolares de hoje, principalmente na realidade do
município de Medicilândia que não se difere muito da realidade brasileira,
quando se trata de educação.
A reunião de partilha
consistiu num momento muito rico onde houve trocas de experiências e foram
problematizadas diversas temáticas que envolvem cotidianamente a comunidade.
Dentro dessas discussões foi possível perceber as angústias, sonhos e anseios
desta comunidade que luta por uma melhora na educação, saúde, moradia estradas
etc., para receber de fato, aquilo que é seu por direito. Pessoas que se
organizam e se mobilizam reivindicando os direitos que lhes são negados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cada
pesquisa ocorrida durante o tempo comunidade observa-se que, vão se juntando
novos conhecimentos que interligados podem contribuir na produção de um novo
olhar no que se refere às partes que constitui o território denominado de campo.
O presente trabalho
realizado foi possível perceber que, embora muito tenha sido feito em relação
juventude e transformações socioambientais, muito ainda há para se fazer.
Principalmente pelo fato de a nossa juventude ser afastada das decisões a serem
tomadas e atividades a serem desenvolvidas.
A partir da pesquisa feita
com os docentes da Área das Ciências da Natureza e Matemática, pode-se perceber
que a metodologia utilizada pelos referidos docentes é basicamente a mesma. Em conformidade
com isso pode-se analisar também que, mesmo alguns dos docentes serem relativamente
novos, as suas práticas educativas tendem a acompanhar a práticas dos docentes
mais antigos, fazendo o uso de algumas tecnologias, quando oferecida pela
escola.
Quanto ao estágio, o
resultado foi bastante satisfatório, por ter sido um trabalho bem elaborado,
onde seguiu uma linha de raciocínio oriundo de um planejamento bem elaborado,
que deu origem aos planos de aula que colocados em prática resultaram em aulas prazerosas com
participação intensa dos alunos, já que os assuntos abordava a própria
realidade da localidade.
A partir dessa experiência, é
possível afirmar que diante de uma aula bem planejada, onde o educando é
enxergado como peça fundamental, irá surtir um ótimo resultado na comunidade e
na sociedade no geral, e é exatamente este o desejo dos pais e mães que habitam
o campo, multiplicando-se em indivíduos agentes de transformação lutando por
uma organização e políticas públicas que enxerguem o campo como um território
habitado por pessoas que também direitos.
Também foi possível constatar que o trabalho
interdisciplinar pode sim dar certo, basta o educador ter um tempo reservado
para poder pesquisar e planejar suas aulas com antecedência, no começo parece
muito difícil, mas, colocando em prática com um bom conhecimento sobre interdisciplinaridade
as aulas se transformam bem mais interessantes e com um entendimento bem mais
extenso abrangendo várias disciplinas em uma só aula.
Correlacionando
a atividade de ação interventiva, pode-se estabelecer que o interesse pelos
assuntos da área das Ciências da Natureza e Matemática se deu principalmente
pelo fato dos discentes terem estabelecido a relação de uso, de aplicação
desses conhecimentos nas propriedades. Desde que este possa ser aplicado de
forma direta e objetiva.
A socialização com
a comunidade dos saberes aprendido também foi um momento que merece ser
caracterizado de extrema relevância, pois, o que foi debatido entre todos os
presentes esclareceu muitas interrogações no que se referia ao PPP. A partilha de saberes alcançou o seu objetivo
que é fazer a comunidade refletir sobre a pratica educacional, bem como trazer
a comunidade para o debate, considerando que a escola esta preparando os
educandos para ajudar no desenvolvimento da comunidade.
A realização desse
trabalho foi de fundamental importância já que as pesquisas foram feitas in lócus, e os dados obtidos foram
analisados de forma clara e objetiva, a fim de não mascarar os resultados, almejando-se explicar o “por que” das coisas e visando
identificar os motivos que determinaram ou contribuíram para formação da
realidade.
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acesso em 14/07/2012 as 12:08hs
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